Questionar: eis a postura da Filosofia

A lição socrática

Como na época de Sócrates, o filósofo tem a tarefa de fazer as questões que incomodam, de cutucar os cidadãos. Mesmo quando o cidadão está convicto de ter a verdade sobre uma determinada questão, o filósofo chega e questiona. (PINZANI, Alessandro. Ser filósofo é questionar. Revista Mundo Jovem. Porto Alegre, ano 50, n.423, p.16, fev. 2012)

     Segundo Alessandro Pinzani (2012) o ensino de Filosofia, seja na escola ou na universidade, pode ocorrer de duas maneiras: a primeira, através da história da filosofia, abordando o pensamento ou a teoria de um dado filósofo. A segunda maneira é tentar ensinar aos alunos a filosofar, pois, segundo o filósofo Immanuel Kant “não se ensina Filosofia, ensina-se a filosofar”.

     O filósofo, no mundo atual, tenta pensar as coisas por meio de conceitos (categorias) coerentes para que formem um conjunto coerente de perguntas/respostas, que seja algo que tenha realmente sentido. Por isso se pode dizer que filosofar é algo que se aprende, é como uma técnica que se aprende olhando como os outros a fizeram, no nosso caso, olhando o que os filósofos pensaram. Aprendemos a filosofar entrando em contanto com o que eles pensaram, aprendemos a filosofar dialogando como o pensamento deles – descobrindo algo novo, concordando e discordando, propondo melhorias.

     Para sermos filósofos no mundo atual, devemos conhecer a realidade à nossa volta, isto é, olhar a sociedade assim como ela é de fato, e procurar compreendê-la, contribuir para que ela se desenvolva e continue a progredir positivamente.

     A verdadeira e mais elementar tarefa do filósofo, no mundo atual como há 25 séculos, é a de colocar em discussão as certezas. Questionar o que aí está como certo [ou como ouvimos, absolutamente certo, sem sombra de dúvida!], levar os cidadãos a encontrar outros modelos, alternativas, outras respostas e mesmo outras perguntas! Sócrates, como ninguém, soube colocar em discussão aquilo que era visto como óbvio: o único modo de sabermos se as suas certezas têm realmente bases sólidas e verdadeiras é dialogando com elas e sobre elas, o objetivo não é confirmar ou substituir tais fundamentos, mas criar modos diferentes e criativos de ver e dialogar com e sobre o mundo.

     Ao final de uma verdadeira discussão filosófica, não deve sair um vencedor e um perdedor, mas na visão socrática, ao término de um diálogo filosófico, teremos tantos modos diferentes de ver uma mesma realidade, inúmeros esforços argumentativos que apontam para a verdade.

   A Filosofia tem a pretensão, desde Sócrates, de levar as pessoas [os cidadãos] a pensarem e problematizarem o mundo de maneiras diferentes. Quando o filósofo estiver certo e conformado com o caminho que está seguindo, achando que está em torno à verdade, está na hora de beber novamente da lição socrática: ir em busca do novo, pensar diferente, colocar suas pseudo-certezas em debate, ouvir outras experiências, construir novas teorias. A Filosofia deve estar em constante movimento em direção à verdade, o dia em que achar que a encontrou e parar de buscá-la... deixará de ser filosofia e tornar-se qualquer outra forma de saber.

JOSSIVALDO ARAÚJO DE MORAIS

Professor da UFT/Palmas – Curso de Filosofia e Artes; Professor da SEDUC – Tocantins; Especialista em Docência do Ensino Superior (ITOP); Licenciado em Filosofia (UECE); Bacharel em Filosofia (ITEP-CE).