25 de junho de 2012

Para que ética se o mundo no qual vivemos é capitalista?

Temos a equivocada impressão que somente praticamos ética quando nos pré-ocupamos dela, isto é, quando nos motivamos ou somos motivados a pensar e praticá-la no dia a dia.



Jossivaldo Araújo de Morais*



Esta foi a frase que um aluno me dirigiu em uma aula sobre “Ética e cidadania”. Não que eu nunca a tivesse ouvido antes, mas naquele momento ela disparou toda uma discussão em torno da “suposta ética” praticada nos tempos atuais. E diante dessa observação oportuna cabe-nos fazer uma reflexão e repensar os [nossos] conceitos sobre ética nos dias atuais.
Temos a equivocada impressão que somente praticamos ética quando nos pré-ocupamos dela, isto é, quando nos motivamos ou somos motivados a pensar e praticá-la no dia a dia. E digo equivocada impressão porque, ao contrário do que muitos pensam e são levados a pensar, a ética é algo muito mais presente em nossas vidas do que julgamos.

Fonte: joaomongeferreira.blogspot.com


Ética é uma palavra que em sua origem grega “ethos”, quer dizer hábito, costume. E hábito tem a ver com aquilo que é habitual, ou seja, com aquilo que praticamos com frequência. Logo falar de ética é referir-se a algo habitual, práticas do nosso cotidiano. É interessante notar que a palavra ética, no latim, vem de “mores, moralis”, que significa morada, moradia, onde se habita, consequentemente, habitual, pois a nossa moradia é algo rotineiro.


Tratar de ética não é algo que faz quando se convoca uma “Comissão ou Conselho de Ética” ou quando se diz “onde está sua ética ou você não está sendo ético!”. A ética tem a ver com aquilo que é costumeiro, habitual, com aqueles momentos vividos em casa, com a família, com os amigos, com os companheiros de trabalho e com os demais cidadãos na rua etc.
Ética se refere a moradia [casa, lar, recanto familiar] porque diz respeito a cuidado, não ao cuidado no sentido terapêutico ou hospitalar, mas a cuidado no sentido de manter aquilo que amamos e nos interessamos. Nesse sentido ser “ético” é dedicar-se continuamente em manter bons relacionamentos sociais, seja na família, na escola, na igreja, no trabalho, nas ruas, repartições públicas etc., porque julgamos que devemos cuidar daqueles e daquilo que nos sustenta como pessoas humanas. Ser ético não é “fazer [somente] o que é certo aos olhos da lei e da sociedade”, é fazer o que é certo para mim enquanto sujeito de relações.
Praticar ética no dia a dia, ser ético no mundo atual – e sempre – é cuidar de pessoas, de relacionamentos, da natureza, da nossa vida familiar, nosso relacionamento no trabalho. Não é somente repreender o errado, é ajudar a fazer o correto, é orientar, cuidar... como se cuida daquilo e daqueles que se ama.
Sabemos que o mundo no qual vivemos prega algo e exige outro totalmente diferente: prega competição [muitas vezes desleal] e automotivação na busca por uma colocação profissional, e, em outros momentos prega coerência e obediência às regras. Como!? Se somos bombardeados com imagens e frases que nos impulsionam a sermos espertos e praticarmos o “jeitinho” e com isso sermos sempre os primeiros e melhores?

Fonte: Alagoas na Net


E quando alguém, que se torna parte nesse jogo, extrapola, é experto demais, passa-se a querer usar os termos: “olha a ética”, “você não foi ético”; como se fosse possível vencer e ser ético ao mesmo tempo! Com certeza é, se não precisarmos ser sempre os primeiros e os melhores a qualquer custo. O mundo capitalista prega: “você precisa ser o melhor, se esforce, seja o melhor!”, mas quem disse que ele sabe o que é melhor para você? Ser melhor pode ser simplesmente ir um pouco mais além do que ontem, não é preciso extrapolar. Ser melhor pode ser simplesmente ter aquilo que me satisfaz e não o que me dizem que vai me satisfazer! Cuide-se, mas não esqueça que os outros também necessitam cuidado!
Ética é cuidado! E cuidado todos precisamos. Seja ético, cuide!


* Professor da UFT (Universidade Federal do Tocantins) nos Cursos de Filosofia e Artes; Professor da Rede Estadual; Especializando em Filosofia Contemporânea (FACEL-PR), Especialista em Docência do Ensino Superior (ITOP); Licenciado em Filosofia (UECE); Bacharel em Filosofia (ITEP-CE).


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Disponível em: http://surgiu.com/n/37825


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