Refletir sobre a
ética é contribuir para aumentar a reflexão sobre a ação humana, tornando-nos
mais sensíveis e mais sensatos, porque ela nos aproxima da realidade e· nos
torna mais conscientes das ações que praticamos em qualquer espaço da nossa
vida.
OS PROBLEMAS DA ÉTICA
Todos os dias nossas vidas,
nossas relações pessoais e profissionais, nossas atitudes são moldadas por
ideias e conceitos que "moram" dentro de nós.
A ética é daquelas coisas que todo mundo sabe o que são, mas que não são
fáceis de explicar, quando alguém pergunta.
Mas também chamamos de ética a própria vida, quando conforme aos
costumes considerados corretos. A ética pode ser o estudo das ações ou dos
costumes, e pode ser a própria realização de um tipo de comportamento. No
entanto deveria chamar-se uma ciência normativa.
Segundo Álvaro Valls didaticamente, costuma-se separar os problemas
teóricos da ética em dois campos: num os problemas gerais e fundamentais (como
liberdade, consciência, bem, valor, lei e outros); e no segundo, os problemas
específicos de aplicação concreta como os problemas de ética profissional, de
ética política, de ética sexual, de ética matrimonial, de bioética etc.
A ética se distingue de outros ramos do saber, ou de outros estudos de
comportamentos humanos, como o direito, a teologia, a estética, a psicologia, a
história, a economia e outros. /
Especificamente ética parece ser absolutamente fundamental. Os costumes
mudam e o que ontem era considerado errado hoje pode ser aceito. Quem se
comportasse de maneira discrepante, divergindo dos costumes aceitos e
respeitados, estaria no erro, pelo menos enquanto a maioria da sociedade ainda
não adotasse o comportamento ou costume diferente.
É claro que, de qualquer maneira, a ética tem pelo menos também uma
função descritiva: precisam procurar conhecer, apoiando-se em estudos de
antropologia culturais e semelhantes aos costumes. Os costumes das diferentes
épocas e dos diferentes lugares. Mas ela não apenas retrata os costumes:
apresenta também algumas teorias, que não se identificam totalmente com as
formas de sabedoria que geralmente concentram os ideais de cada grupo humano. A
ética tem sido também uma reflexão teórica.
Fonte: Em Defesa da Sã Doutrina |
Segundo Álvaro Valls a humanidade só refere por escrito depoimento sobre
as normas de comportamentos (e teorias) dos últimos milênios, embora os homens
já existissem há muito tempo. Mas é importante então lembrar que as grandes
teorias éticas gregas também traziam a marca do tipo de organizações social
daquela sociedade, a mesma ajudam a compreender a distância entre as doutrinas
éticas escritas pelos filósofos.
Porém o que os gregos pensavam da pederastia, ou os casos em que os
romanos podiam abandonar uma criança recém-nascida, ou as relações entre o
direito de propriedade e o "não cobiçarem a mulher do próximo", o
casamento com uma prima em quinto grau constituía uma culpa mais grave do que o
abuso sexual de uma empregada do castelo. Não são apenas os costumes que
variam, mas também os valores que os acompanham, as próprias normas concretas,
os próprios ideais, a própria sabedoria, de um povo a outro.
Deve haver um princípio ético supremo, que perpasse a pré-história e a
história da humanidade. Casar com uma prima de até sétimo grau era um crime e
um pecado. O costume então era bastante matreiro: os nobres se casavam sem
perguntar pela genealogia, e só se preocupavam como o incesto quando
eventualmente desejassem dissolver o casamento, anulando-o. Mas então temos de
nos perguntar qual a importância desta regulamentação ética para nós hoje, numa
época de capitalismo avançado (ou mesmo selvagem), onde a grande maioria se
sustenta ou empobrece graças exclusivamente ao seu trabalho pessoal, à sua
força de trabalho, independente de linhagem e de herança.
Pois os protestantes, principalmente os calvinistas, sempre valorizaram
eticamente muito mais o trabalho e a riqueza, enquanto os católicos davam um
valor maior à abnegação, ao espírito de pobreza e de sacrifício.
Sendo que a contrapartida nos permite entender por que, no século
passado, o ideal do homem cristão enaltecia muito mais o burguês culto, casado,
com famílias grandes e boas economias acumuladas, cultor da vida urbana e
social. E os grandes pensadores éticos sempre buscaram formulação que
explicassem, a partir de alguns princípios mais universais, tanto a igualdade
do gênero humano no que há de mais fundamental, quanto às próprias variações.
Dois nomes merecem ser logo citados como estrelas de primeira grandeza
desse firmamento: o grego antigo Sócrates (470- 399 a.C) e o alemão prussiano
Kant (1724- 1804).
Sócrates, o filósofo que aparece nos Diálogos de
Platão, usando o método da maiêutica (interrogar o
interlocutor até que este chegue por si mesmo à verdade, sendo o filósofo uma
espécie de "parteiro das ideias"), foi condenado beber veneno. A
acusação era de que ele seduzia a juventude, não honrava os deuses da cidade e
desprezava as leis da polis (cidade-estado). Sócrates obedecia
às leis, mas as questionava em seus diálogos, procurando fundamentar
racionalmente a sua validade. Ele ousava, portanto, perguntar se estas leis se
eram justas. E mesmo que chegasse a uma conclusão positiva, o conservadorismo
grego não podia suportar esse tipo de questionamento, pois as leis existiam
para serem obedecidas, e não para serem justificadas.
Sócrates foi chamado, muitos séculos depois, "o fundador da
moral", porque a sua ética (e a palavra moral é sinônimo
de ética, acentuando talvez apenas o aspecto de interiorização das normas) não
se baseava simplesmente nos costumes do povo e dos ancestrais, assim como nas
leis exteriores, mas sim na convicção pessoal, adquirida através de um processo
de consulta ao seu "demônio interior" (como ele dizia), na tentativa
de compreender a justiça das leis.
Sócrates seria então, para muitos, o primeiro grande pensador da
subjetividade, o que, alias, também transparecia por seu comportamento irônico.
Ora, se este movimento de interiorização da reflexão e da valorização da
subjetividade ou da personalidade começa com Sócrates, parece que ele culmina
com Kant, lá pelo final do século XVll.
Kant buscava uma ética de validade universal. Sua filosofia se volta
sempre, em primeiro lugar, para o homem, e se chama filosofia
transcendental porque busca encontrar no homem as condições de
possibilidade do conhecimento verdadeiro e do agir livre.
Kant precisa chegar a uma moral igual para todos, uma moral racional, a
única possível para todo e qualquer ser racional. Se a moral é a racionalidade
do sujeito, este deve agir de acordo com o dever. A formulação clássica do
imperativo categórico é a seguinte, conforme o texto da Fundamentação
da Metafísica dos Costumes. Kant procurou deduzir da própria estrutura
do sujeito humano, racional e livre, a forma de um agir necessário e universal.
É moralmente necessário que todos ajam assim.
Os críticos de Kant costumam dizer que ele teria as mãos limpas, se
tivesse mãos, ou seja, que desta maneira é concretamente impossível agir. A
outra crítica, complementar a esta, é a de que não se pode ignorar a história,
as tradições éticas de um povo, etc., sem cair numa ética totalmente abstrata.
Mas parece também impossível, hoje em dia, ocupar-se com a ética ignorando as
ideias de Kant.
Confira artigo completo em:
http://www.webartigos.com/articles/4198/1/O-Que-e-etica/pagina1.html
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