27 de fevereiro de 2014

A [Des]Construção anunciada e operada pelo pensamento contemporâneo



 

 Nietzsche, no Assim falou Zaratustra, nos convida a trilhar um caminho em direção à verdade, pois segundo ele não há um caminho que aponta para ela. Ele sugere uma desconstrução da nossa forma de pensar, não como destruição, mas como uma decisão de caminhar seguindo nossos próprio rumos.



 Jossivaldo Araújo de Morais*


Ao se falar em pensamento contemporâneo em geral, ou mesmo em Filosofia de modo específico, um primeiro desafio a enfrentar é o relacionado à desconstrução. O termo tornou-se mais popular com Jacques Derrida, mas desde Nietzsche, em especial, o pensamento contemporâneo ocupou-se em estabelecer rupturas ou desconstruções em relação à tradição ocidental do pensamento, dedicar-se a questões ou problemas que reflitam o tempo atual e não os que a tradição menciona. Nietzsche pretende “forjar novos valores para uma nova era” (LAW, 2009, p.316), ou seja, estabelecer valores que atendam a necessidade da época em que se vive, os valores herdados da tradição já não são suficientes, e os estabelecidos agora talvez não o sejam amanhã – e  certamente não o serão. A missão do pensamento contemporâneo já se coloca em seu livro Assim falou Zaratustra, conforme nos atesta Guimarães Rodrigues (1996), o filósofo afirma não haver um caminho que aponte para a verdade, mas é necessário que se construa esse caminho continuamente através da experiência e da interrogação. A “[des]construção” sugerida de modo algum diz respeito a uma destruição, mas uma re-elaboração dos princípios sugeridos pela tradição. A proposta é mesmo de ruptura [cisão] e parece sugerir: até aqui seguimos o pensamento tradicional, a partir daqui tomamos nosso próprio rumo de acordo com as necessidades que nos são inerentes.

Em todos os campos do pensamento contemporâneo o que se vê é uma tentativa de valorização do que é próprio ao ser humano como percebemos na inversão operada por Ortega y Gasset ao cogito cartesiano: Existo, logo penso. Na sugestão de Karl Jaspers, de que a filosofia deveria conduzir o ser humano a uma autodescoberta e a um modo de vida autêntico (LAW, 2009).
Contra a tendência moderna de culto ao progresso, culto à ciência, culto à razão e o desprezo às outras formas de conhecimento (DE LIMA, 2004), Ludwig Wittgenstein afirma “não é apenas a linguagem científica que é significativa. Existem muitas formas diferentes de discurso, cada uma com suas próprias regras [...]” (LAW, 2009, 327). De modo semelhante Martin Heidegger criticou a cultura de massa e a sociedade tecnológica moderna por distanciarem o homem da natureza levando-o a perder a sua originalidade [sua capacidade de pensamento e decisão] e tornando-o dependente das conquistas científicas. Karl Popper nos ajuda a compreender que as teorias científicas não são incontestáveis, mas, ao contrário, corroboráveis e/ou refutáveis, isto é, elas podem ser confirmadas ou rejeitadas através das experiências realizadas; isso nos dá a certeza de que uma teoria científica é válida enquanto não for refutada (superada) por outra teoria científica.
Em face de uma época dominada pelo discurso científico e pelo modo capitalista de produção, outros pensadores levantaram questões pertinentes ao período vivido: a questão da justiça e da responsabilidade por John Rawls, a cultura de massa e a indústria cultural por Max Horkheimer e Theodor Adorno, a liberdade e a responsabilidade pelo que nos tornamos por Jean-Paul Sartre, a necessidade de uma nova ética e ação comunicativa de Jürgen Habermas dentre tantos outros (LAW, 2009).

A [des]construção da contemporaneidade revela o que Jacques Derrida aponta em seus estudos, que dentre tantos caminhos apontados pela tradição do pensamento devemos buscar compreender os seus detalhes e a partir deles revelar os aspectos ocultos e irrefletidos. É exatamente nos detalhes ocultos e muitas vezes irrefletidos que se revela a desconstrução, a cisão, o novo caminho construído a partir das pistas encontradas nos textos tradicionais e sob os textos tradicionais. O tempo contemporâneo exige uma re-leitura desconstrutiva.



* Professor Efetivo da Rede Pública Estadual do Tocantins.  Graduado em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Especialista em Docência do Ensino Superior. Especializando em Filosofia Contemporânea pela FACEL-PR. Foi professor auxiliar na Universidade Federal do Tocantins nos cursos de Licenciatura em Filosofia e Licenciatura em Artes-Teatro (2012-2013). Foi professor efetivo da Rede Estadual do Pará (2007-2011).


REFERÊNCIAS
DE LIMA, Raymundo. Para entender o pós-modernismo: notas de pesquisa. Revista Espaço Acadêmico. n. 35. abril 2004.
GUIMARÂES RODRIGUES, Victor Hugo. As armadilhas da desconstrução: as estratégias do texto nas aproximações entre Derrida e o Zaratustra de Nietzsche. Cadernos Nietzsche. n.1. 1996.
LAW, Stephen. Guia ilustrado de filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009.


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