Jossivaldo Araújo de Morais *
Dasein [pre-sença]
é o modo pelo qual Heidegger denominará o ser humano, entendido como aquele
ente que possui em si a capacidade de revelar o ser. O homem é o ente que tem
em sua constituição a possibilidade de revelar ser, isto é, o ser humano é,
como diz o autor, a “clareira do ser”: o lugar onde o ser se faz compreender, o
lugar onde se diz o ser (HEIDEGGER, 1973).
Heidegger compreende o dasein como um ente em projeto, por
fazer-se. Por isso esse ente é sempre a consequência de suas escolhas, nas
palavras do filósofo “[...] sempre é suas possibilidades e isso de tal maneira
que ele se compreende nessas possibilidades e a partir delas [...]” (2002:244).
O fazer-se do dasein é sempre uma dupla possibilidade de ação [relacionamento],
seja no tocante aos entes que estão à mão [a natureza e os demais entes],
chamada de “ocupação”, quanto em relação às outras pre-senças, denominada “preocupação”.
A compreensão de si a partir dessas
possibilidades, segundo o autor, é algo que se perde por conta da decadência – estar mergulhado no ser
junto ao mundo, isto é, mergulhado nas ocupações diárias inevitáveis, ocupado
com as coisas –, que faz o “ser-aí” viver de modo inautêntico. No modo
inautêntico da vida humana a relação com as coisas toma o lugar da relação
entre as pessoas (do convívio social) e do convívio particular. O viver se
torna um ocupar-se com o mundo.
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Mergulhada no mundo a presença perde-se de si mesma e o
verdadeiro sentido do seu ex-sistir;
que são as suas possibilidades, manifestas a partir do conhecimento de si, de
seu convívio com os outros e da ocupação com as coisas e com a natureza.
Imersos no trato com as coisas o indivíduo não se permite ter contato consigo
mesmo – ver a si mesmo em suas limitações e potencialidades, descobrir-se como
ser finito -, e a vida parece ser algo controlável, fácil de lidar. Heidegger
(2002) chama isso de “fuga de si mesmo”, pois se prefere estar envolto em
atividades a estar a só consigo mesmo, a se deparar com a sua realidade mais
verdadeira: a finitude, a limitação no tempo.
O autor relata que essa fuga é uma das
possíveis respostas humanas ao submeter-se ao que ele chama de angústia, pois ela abre ao indivíduo o
seu ser mais próprio: ex-sistir,
projetar-se, construir-se, isto é, o dasein
é fruto daquilo que escolhe fazer.
Na pre-sença, a
angústia revela o ser para o poder-ser mais próprio, ou seja, o ser-livre para
a liberdade de assumir e escolher a si mesmo. A angústia arrasta a pre-sença
para o ser-livre para [...]
(HEIDEGGER, 2002: 252).
A outra resposta possível é, de posse
de sua realidade: a ex-sistência, a presença assumir que sua construção como
ser-no-mundo e com os outros se dá num relacionamento expresso através daquilo que
é seu modo mais próprio de com-vivência: a cura.
Cura que na afirmação de Heidegger é também “cuidado” e “dedicação” e que
permeia “todos os comportamentos e atitudes do homem” (HEIDEGGER, 2002).
Assumir esse modo de existir constitutivo do ser humano é o modo autêntico de
viver da presença.
A cura, o cuidado e a dedicação, são,
como modo constitutivo essencial do ex-sistir
humano, a via de acesso original ao mundo, pois através dessa constituição
fundamental da pre-sença, percebe-se
o “outro” – pre-senças e entes do
mundo – vai-se ao encontro, dispensa-se atenção, busca compreender (ocupa-se), dialoga-se, dedica-se,
investe-se tempo, orienta-se, dá-se direção, troca-se experiências, enfim, pre-ocupa-se. É nessa relação, que vai
além do aproximar-se, que o ser-aí – ser
que se comunica com o ser, ou seja, que se percebe como ente no mundo e que é
capaz de transcendê-lo, dando-lhe sentido e modificando –, constrói a si e ao
outro.
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* Professor Efetivo da Rede Pública
Estadual do Tocantins (2010). Graduado em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará – UECE (2005).
Especialista em Docência do Ensino Superior pela Faculdade ITOP (2009).
Especializando em Filosofia Contemporânea pela FACEL-PR (2014). Foi professor
auxiliar na Universidade Federal do Tocantins nos cursos de Licenciatura em
Filosofia e Licenciatura em Artes-Teatro (2012-2013). Foi professor efetivo da
Rede Estadual do Pará (2007-2011).
REFERÊNCIAS
HEIDEGGER, Martin. Ser e
tempo. 11. ed. Tradução de Márcia de Sá Cavalcante. Petrópolis: Vozes,
2002. p.243-262.
_____. Que é metafísica? Tradução
de Ernildo Stein. São Paulo: Abril Cultural, 1973. p.223-261.
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